deserto

Site specific realized for the MAMAM at Pátio, Recife, Brazil
Site specific desenvolvido para o MAMAM no Pátio, Recife





images of the exhibition, MAMAM, Recife, Brazil, 2014
“Deserto” foi um site specific proposto para MAMAM no Pátio, resultado da pesquisa desenvolvida durante s a residência artística na cidade do Recife no Espaço Fonte. O trabalho propõe uma reflexão sobre as políticas públicas culturais e urbanísticas da área do entorno do Pátio São Pedro.

A política iniciada desde o fim da década de 60, com o tombamento do casario existente, foi a de higienizar o pátio de seus habitantes e usuários e tentar substituí-los por uma “frequência selecionada”, com a instalação de diversas instituições culturais neste casario. Existem hoje nove instituições culturais no Pátio, sendo que apenas 2 delas estão constantemente abertas ao público. Com poucos investimentos, baixa manutenção e sem uma programação consistente, esses espaços são pouco frequentados pelo “público alvo” destas instituições e a programação destes museus não atende aos interesses da população que diariamente frequenta as ruas comerciais no entorno do Pátio São Pedro.

O título “Deserto” faz referência ao nome de um bar existente no centro do Recife nos anos 60, descrito pelo dramaturgo Tulio Carella em seu diário*, lugar que ele frequentava e onde convivia com bêbados, prostitutas e homossexuais.

Sendo o Pátio de São Pedro árido, devido ao clima cidade do Recife,os horários de maior permanência do público são as horas de sol ameno e a noite. E isto se mostrou como um fator extra à baixa frequência nas instituições, uma vez que os museus não abrem aos finais de semana e fecham diariamente as 17h. Disto surgiu a questão “O que expor em um museu que não tem visitas? E que a população nem mesmo sabe que existe ali?”

Assim, a intenção foi a de chamar a atenção do público sobre a situação de emergência deste conjunto de instituições, mesmo nos horários em que o museu se encontra fechado através do uso de sirenes luminosas e letreiros eletrônicos acesos 24 horas por dia na fachada do museu. Situação de emergência no sentido de deterioração patrimonial e institucional, mas também do que pode emergir dali, da potência que o entorno e sua carga histórica carrega.

Dentro do espaço do museu, me apropriei das lonas usadas pelos camelôs que circundam o pátio e cobri toda sua superfície (piso e painéis expositivos) com a mesma lona azul, como se ali dentro houvesse uma exposição, mas que a mesma está inacessível, não pode ser vista; E está em estado de alarme, com as sirenes acesas mas, que revela que é possível um diálogo entre esta instituição e seu entorno.

* ORGIA - OS DIARIOS DE TULIO CARELLA, RECIFE 1960, Ed. Opera Prima, São Paulo, 2011